Declínio global alarmante de peixes migradores nos últimos 50 anos

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O relatório da “Fundação Mundial de Migração de Peixes”, chama a atenção sobre as ações que podem parar o declínio dos migradores antes que seja tarde.

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Piramutaba, <em>Brachyplatystoma vaillantii</em>

No dia 28 de julho de 2020, foi lançado o “Living Planet Index for Migratory Freshwater Fish”, em tradução livre “Índice Planeta Vivo para peixes migradores de água doce”. Os migradores são caracterizados por utilizar os ambientes de água doce, exclusivamente ou parcialmente, movimentando-se entre habitats críticos para completar seu ciclo de vida, com certa regularidade e direção certa1. Os exemplos mais famosos são: salmão, piramutaba, dourada amazônica, dourado, pintado, cachara, pirarara, curimba e bacalhau dos rios australianos.  

O documento lançado é um relatório técnico da organização “Fundação Mundial de migração de peixes” (World Fish Migration Foundation) que contém dados globais do status dos peixes migradores, porém o resultado encontrado não é nada animador. Ele aponta o grau alarmante de declínio que as populações desse grupo de peixes vêm sofrendo em decorrência dos impactos das atividades humanas e a urgência em ações que possam parar e reverter esta situação antes que alcancem um ponto irreversível.

Os migradores são caracterizados por utilizar os ambientes de água doce, exclusivamente ou parcialmente, movimentando-se entre habitats críticos para completar seu ciclo de vida, com regularidade e direção certa

As populações de peixes migradores de água doce que são monitoradas globalmente caíram em média 76% desde o ano de 1970. Isso quer dizer que a cada 100 peixes, 76 foram perdidos sem reposição no estoque pesqueiro de juvenis. O declínio foi ainda maior na Europa, com uma queda média de 93%. Na América Latina e no Caribe, a média de diminuição foi de 84%. Na América do Norte este valor é de pelo menos 28%. Para os migradores da Ásia e Oceania, os dados foram inconclusivos devido à grande dificuldade em reuni-los. Estes dados revelam que a situação é pior do que os ictiólogos (cientistas que estudam peixes) imaginavam.

Pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), outra espécie que habita nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco. / Imagem: Hectonichus - Wikimedia Commons 

Mas por que é tão grave a diminuição dessas populações? Sabemos que os peixes migradores desempenham um papel muito importante na manutenção dos nossos rios, lagos, áreas úmidas e oceanos, suportando uma cadeia alimentar complexa. Além disso, as migrações indicam movimentação e, consequentemente, os peixes migradores fazem o transporte de nutrientes entre locais e participam da ciclagem de nutrientes, através de seus processos de vida, como alimentação, reprodução e excreção. Não podemos deixar ainda de destacar que os peixes migradores, que são geralmente aqueles que possuem os maiores tamanhos e maior valor de venda, são um recurso alimentar extremamente importante para milhões de pessoas em todo o mundo. Eles podem ser ainda considerados espécies-chave (maioria predadora de topo das cadeias alimentares) e espécies guarda-chuva que são todas aquelas espécies que ao ser protegidas permitem a proteção de outras espécies ou ecossistemas, portanto, conservando-as acabamos por conservar muitas outras espécies do mesmo local. 

Os peixes migradores, que são geralmente aqueles que possuem os maiores tamanhos e maior valor de venda, são um recurso alimentar extremamente importante para milhões de pessoas em todo o mundo

A migração dos peixes depende de que os rios fluam livremente, sem barramentos, eclusas e outros obstáculos que fragmentam e interrompem seu curso natural. Há ainda diversos outros impactos que afetam de forma negativa os peixes migradores, como a perda de habitat associada com a fragmentação, a superexploração das espécies, introdução de espécies invasoras, poluição e mudanças climáticas2.

As principais ações recomendadas para a recuperação e conservação destas espécies são3:

a) Restauração dos ambientes nos quais elas vivem; 
b) Manutenção de trechos de rios por elas utilizados livres de barragens para que possam completar suas migrações; 
c) Diminuição da poluição que é lançada nos rios e outros corpos d’água;
d) Proteção de habitats e áreas críticas;
e) Fim da sobrepesca 
f) Proibição da pesca de espécies ameaçadas de extinção;
g)  Proibição de mineração insustentável em rios e lagos e;
h)  Controle de espécies exóticas invasoras. 

A partir do relatório citado acima, a Fundação Mundial de Migração de Peixes, ressalta o convite para que todos se conscientizem e também ajudem na divulgação do Dia Mundial da migração de peixes, que em 2020 foi no dia 24 de outubro. Este dia é um dia de celebração internacional para criar consciência sobre este tema tão relevante, e organizações interessadas podem criar seu próprio evento sob o tema: Conectando peixes, rios e pessoas. 

O que fazer para proteger as espécies de peixes migratórios? (postuguês)

O relatório completo pode ser baixado (em inglês) neste link: worldfishmigrationfoundation.com/wp-content/uploads/2020/07/LPI_report_2020.pdf

E você pode conhecer mais sobre o Dia Mundial da Migração de peixes em: worldfishmigrationday.com

Referências:

  1. Northcote, T. G. (1978) Migratory strategies and production in freshwater fishes. pp. 326-359. In: Gerking, S. D. (ed.). Ecology of Freshwater Fish Production. Blackwell Scientific Publications, Oxford, UK
  2. WWF (2018) Living Planet Report - 2018: Aiming Higher. Grooten, M. and Almond, R.E.A.(Eds). WWF, Gland, Switzerland.
  3. Tickner, D., Opperman, J. J., Abell, R., Acreman, M., Arthington, A. H., Bunn, S. E., Cooke, S. J., Dalton, J., Darwall, W., Edwards, G., Harrison, I., Hughes, K., Jones, T., Leclère, D., Lynch, A. J., Leonard, P., McClain, M. E., Muruven, D., Olden, J. D., Ormerod, S. J., Robinson, J., Tharme, R. E., Thieme, M., Tockner, K., Wright, M., and Young, L. (in press) Bending the curve of global freshwater biodiversity loss – an emergency recovery plan. BioScience. https://doi.org/10.1093/biosci/biaa002

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