Carta aberta aos agricultores

Um inspirador convite com diversas estratégias e práticas sustentáveis ​​para combinar conservação e agricultura.

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Barraca de hortaliças agroecológicas

Prezados agricultores,

Gostaríamos de discutir nesta carta como é possível aliar conservação e agricultura. Como agricultores, vocês estão em uma posição única para contribuir para a preservação da biodiversidade, enquanto produzem alimentos e geram renda para suas famílias e a comunidade. Vocês sabem melhor do que ninguém que a natureza é crucial para o sucesso de suas atividades. A preservação da biodiversidade e dos ecossistemas é fundamental para manter a saúde do solo, a qualidade da água e a estabilidade do clima, elementos que são fundamentais para a produção agrícola.

É muito comum pessoas que já viajaram de avião observarem a paisagem através da janela e identificarem fazendas de monocultura que hoje substituem as paisagens naturais que existiam antes. É importante considerar que esses cultivos nos fornecem alimentos, fibras e combustíveis, mas não podemos ignorar que esse processo acabou se tornando um dos principais motivos de perda de biodiversidade global.

Redesenho paisagens vinícolas na França

Uma das formas de aliar a conservação da natureza e a produção de alimentos é através da agricultura sustentável. Isso inclui práticas como o uso de adubos orgânicos, implantação de sistemas de captação de água da chuva, a rotação de culturas, a conservação do solo e a proteção da água. Essas práticas não apenas ajudam a proteger o meio ambiente, mas também podem aumentar a produtividade e a rentabilidade das propriedades agrícolas.

A agroecologia é outra abordagem interessante a ser considerada, uma vez que seu objetivo principal é integrar as atividades da agropecuária com o manejo do meio ambiente de forma a torná-las mais sustentáveis. Como consequência, é possível minimizar os danos à natureza e gerar maior segurança alimentar. Técnicas como o uso de sistemas agrícolas diversificados, o manejo integrado de pragas, a conservação de sementes crioulas (tradicionalmente cultivadas e adaptadas ao longo de gerações por agricultores locais) e o uso de sistemas agroflorestais fazem parte da agroecologia. Ela também incentiva a colaboração com as comunidades locais e a valorização da agricultura familiar e dos agricultores tradicionais.

Outra forma de conciliar a preservação ambiental e a agricultura é através da conservação de áreas naturais dentro de suas propriedades. Isso pode incluir a criação de áreas de floresta, refúgios para espécies ameaçadas de extinção, mata ciliar ou vegetação marginal, bem como a proteção de córregos e nascentes.

Agroecossistema de abacaxi à sombra

A mata ciliar possui múltiplas funções, pois atua na retenção dos sedimentos, nutrientes e poluentes químicos carregados pela chuva, contribui com a qualidade e a disponibilidade de água, protege contra processos erosivos, e fornece recursos como abrigo e alimento para organismos terrestres e aquáticos. Além de sua importância para a manutenção da biodiversidade, essas áreas também podem fornecer serviços ecossistêmicos valiosos, como a polinização e a proteção do solo.

Vocês sabiam que é possível “plantar água”? Essa é uma técnica de conservação que utiliza a vegetação para ajudar a reter e aproveitar a água da chuva. Isso pode incluir a plantação de árvores e outras plantas em áreas propensas à erosão, a criação de bacias de infiltração para armazenar água da chuva e a implementação de sistemas agroflorestais para aumentar a capacidade de retenção do solo. A técnica de plantar água é considerada uma forma muito eficaz de gerenciamento dos recursos hídricos.

Outro tema crucial que não podemos deixar de mencionar é o problema que o agronegócio causa no Brasil com o desmatamento da vegetação nativa. Vamos começar falando dos rios voadores formados na floresta Amazônica.

Trata-se de correntes de ar carregadas de umidade que se deslocam a grandes altitudes e que são fundamentais para a agricultura no Brasil. Uma elevada quantidade de vapor de água derivada da evaporação do oceano Atlântico é deslocada por ventos para o continente, desencadeando chuvas sobre a Amazônia. Em seguida, da floresta parte um volume massivo de ar úmido que se desloca em direção ao sudeste e sul do país, levando chuvas abundantes essenciais para agricultura e para outras atividades, como a produção de energia hidroelétrica.

Bem, mas o que isso tem a ver com o desmatamento? Sabemos que a floresta é responsável por absorver grandes quantidades de água da chuva e liberar vapor d'água para a atmosfera, contribuindo para a formação dos rios voadores. Quando a floresta é desmatada, a liberação de vapor d’água é reduzida, o que pode afetar a disponibilidade de água para a produção agrícola. As florestas também auxiliam na regulação do clima global, de modo que o desmatamento contribui para o agravamento do cenário de mudanças climáticas. Um efeito negativo seria a diminuição da capacidade dos rios voadores transportarem umidade para regiões interioranas do país.

Também é preponderante mencionar o problema do uso desordenado de defensivos agrícolas. O uso excessivo de agrotóxicos pode ter efeitos negativos significativos na saúde humana e no meio ambiente, incluindo a contaminação do solo e da água, a mortalidade de agentes polinizadores como os insetos (em especial, abelhas) e a perda de biodiversidade. Além disso, o uso excessivo de agrotóxicos pode maximizar a resistência de pragas, tornando mais difícil controlá-las no futuro. É importante lembrar que a agricultura sustentável e a agroecologia oferecem alternativas eficazes para o controle de pragas e doenças, sem a necessidade de usar grandes quantidades de agrotóxicos. Como agricultores, vocês têm um papel chave na promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis que visem a redução do uso de agrotóxicos.

Abelha polinizadora

Entendemos que seja desafiador equilibrar a produção de alimentos com as necessidades de conservação, mas ressaltamos que já existem algumas estratégias interessantes e bem-sucedidas como programas e incentivos financeiros disponíveis para agricultores que desejam implementar práticas de conservação em suas propriedades. Isso pode incluir pagamentos por serviços ambientais, programas de conservação de solo e água, entre outros.

Gostaríamos de reforçar que a conservação e a agricultura não são excludentes, mas sim complementares. Acreditamos que, com planejamento cuidadoso e colaboração, é possível trabalharmos juntos na busca de soluções que beneficiem tanto a agricultura quanto a conservação da biodiversidade.

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