Fungos alucinógenos na última “viagem” das cigarras Brood X

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A cacofonia enlouquecedora das cigarras no verão é o sinal de que o amor está no ar. Porém, este período de reprodução pode sofrer a interferência de um fungo oportunista.

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Cigarra Brood X infectada pelo fungo, que é a massa mais clara na porção final do abdômen do inseto

A maioria de nós já ouviu o canto estridente das cigarras no verão. A cacofonia enlouquecedora é o sinal de que o amor está no ar. Pelo menos para as cigarras, pois indica o início da época de reprodução.

São quase duas mil espécies desse inseto que tem um ciclo de vida assombroso. Algumas espécies levam muitos anos para passar de ninfa até alcançar a fase adulta. Uma cigarra adulta é aquela que já tem asas completamente formadas, consegue se reproduzir e canta incessantemente, pois, depois de passar até 17 anos no subsolo, as chamadas cigarras periódicas vivem apenas algumas semanas na superfície para copular.

Depois de passar até 17 anos no subsolo, as chamadas cigarras periódicas vivem apenas algumas semanas na superfície para copular.

É o caso das cigarras Brood X, cujo aparecimento aos bilhões no verão é um acontecimento e tanto para os americanos, como já aconteceu neste ano de 2021 e está previsto para acontecer em 2038.

Exemplar da cigarra Brood X

E para sermos justos, convém esclarecer que nem todas as cigarras são barulhentas porque, na realidade, são os machos que cantam para atrair as fêmeas. Precisamente, não é um canto, mas um som produzido ao se esfregar as asas contra um órgão muito complexo chamado timbal (posicionado na parte inferior do tórax e abdome), que funciona como um sistema de ressonância.

Pois bem, recentemente descobriu-se que um fungo (Massospora sp.), que produz substâncias alucinógenas e estimulantes, altera o comportamento sexual dos machos da Brood X. Isso mesmo, as cigarras ficam dopadas. Este fungo manipulador faz com que as cigarras machos exibam comportamentos de cigarras fêmeas.

Este fungo manipulador faz com que as cigarras machos exibam comportamentos de cigarras fêmeas.

Os machos infectados então começam a bater suas asas da mesma forma que as fêmeas fazem quando procuram atrair machos para copular..  Isso ocorre porque o fungo usa as cigarras para se reproduzir e se disseminar (por meio de suas células reprodutivas, os esporos) para o maior número possível de indivíduos por meio do contato entre as cigarras que se acasalam.

Essa interessante interação entre parasita (fungo) e hospedeiro (cigarra) também ocorre em outros insetos. Acredita-se que pode se tratar de um exemplo de algo que Richard Dawkins (biólogo evolucionista e professor da Universidade de Oxford) chamou de 'fenótipo estendido'. Uma extensão da influência dos genes que vai além dos limites de um organismo para modificar outros organismos e o meio ambiente.

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Para mais informações:

  1. Boyce, G. R. et al. 2019. Psychoactive plant- and mushroom-associated alkaloids from two behavior modifying cicada pathogens. Fungal Ecology 41:147–164.
  2. Cooley, J. R. et al. 2018. A specialized fungal parasite (Massospora cicadina) hijacks the sexual signals of periodical cicadas (Hemiptera: Cicadidae: Magicicada). Scientific Reports 8:1432.


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