![Mala](https://revistabioika.org/assets/multimedia/docs/es/artes/mirtha.angulo@revistabioika.org/thumbs/20201019170601-luggage-3297015-1920-m.jpg)
O material derivado da biomassa de fungos apresenta características similares às do couro de animais e daqueles produzidos de forma sintética. Sua fabricação é mais barata, benéfica para o meio ambiente e, ao fim de sua vida útil, é biodegradável.
Nesta nota, destaco seções de um artigo publicado por Mitchell Jones, Antoni Gandia e Alexander Bismarck na revista Nature, que descreve, entre outras coisas, o uso de materiais derivados de fungos como substitutos do couro.
O couro é um material durável e flexível, de origem natural, tratado por processos físicos e químicos para aumentar sua durabilidade. Hoje, é um material bastante utilizado na indústria da confecção, calçados, móveis e acessórios, devido às suas propriedades organolépticas (cor, brilho, textura). Estima-se que, até 2025, a indústria do couro alcance US$ 360 bilhões.
O couro está associado à pecuária, que está ligada, entre outras coisas, ao desmatamento e às emissões de gases de efeito estufa
Porém, sua produção apresenta problemas para o meio ambiente. O couro está associado à pecuária, que está ligada, entre outras coisas, ao desmatamento (para aumentar pastagens para o gado) e às emissões de gases de efeito estufa (devido ao metano liberado pelo gado como resultado da digestão). O processo de tratamento químico do couro, por si só, é prejudicial ao meio ambiente, uma vez que utiliza produtos químicos perigosos e gera considerável quantidade de lamas residuais.
Existem materiais alternativos, como os couros sintéticos à base de policloreto de vinila (PVC) e poliuretano (PU). A fabricação desses materiais contribui menos para o aquecimento global e consome menos água do que a produção de couro. No entanto, o PVC e o PU dependem de combustíveis fósseis e do uso de produtos químicos perigosos. Além disso, como outros plásticos, eles levam séculos para se degradarem.
![Curtimbre](https://revistabioika.org/assets/multimedia/docs/es/artes/mirtha.angulo@revistabioika.org/thumbs/20201019170601-fez-tannery-morocco-old-colorful-moroccan-leather-color-dying-m.jpg)
Para superar essas dificuldades, foram desenvolvidos couros artificiais derivados da biomassa de fungos. Esses materiais são semelhantes (visualmente e ao toque) ao couro e têm propriedades mecânicas semelhantes. Parecem ser uma alternativa mais econômica e também socioambientalmente mais responsável para utilização na indústria de calçados, móveis, acessórios e equipamentos esportivos.
Os fungos são uma fonte natural e renovável de polímeros, como a quitina (que é o principal componente do exoesqueleto dos insetos). A quitina tem uma estrutura semelhante à celulose (que é o componente estrutural das células vegetais). Por causa dessa semelhança estrutural, há muito tempo é sugerido que a polpa de fungos pode ter aplicações industriais semelhantes à polpa de madeira, na indústria têxtil e na área biomédica.
![Micelio](https://revistabioika.org/assets/multimedia/docs/es/artes/mirtha.angulo@revistabioika.org/20201019170601-mushroom-mycelium-small-mushroom-tree-bark-mycology.jpg)
Embora o uso da biomassa de fungos remonte à década de 1950, quando começou a ser usado na indústria do papel, só nos últimos anos tem havido um grande interesse na geração de tecidos derivados de fungos, como as membranas de filtração e lâminas de polímero utilizados na indústria da moda.
O crescimento da indústria do couro originado do micélio corresponde ao rápido crescimento do número de empresas de biotecnologia comprometidas com a produção desses materiais e produtos vindos principalmente na Indonésia, Itália e Estados Unidos. Por exemplo, a empresa indonésia MycoTech (https://www.mycote.ch) lançou vários produtos feitos de biomassa de fungos, como sapatos, sandálias, bolsas, carteiras e pulseiras de relógio.
O crescimento da indústria do couro originado do micélio corresponde ao rá-pido crescimento do número de empresas de biotecnologia comprometidas com a produção desses materiais
O preço de fabricação do produto é baixo. Para produzir um metro quadrado (sem tratamento), são investidos US$ 0,18 - 0,28, enquanto o couro bovino sem tratamento custa US$ 5,38 - 6,24, e os materiais para produzir a mesma quantidade de couro sintético custam US$ 4,43 - 23,30.
Um dos principais desafios para a indústria de couro fúngico é obter micélios uniformes que exibam espessura, cor e propriedades consistentes em todo o material. O mercado parece promissor para o produto, que provavelmente desempenhará um papel importante na fabricação de bens de consumo com responsabilidade ética e ambiental.
Referências
- Jones, M., Gandia, A., John, S. et al. Leather-like material biofabrication using fungi. Nat Sustain (2020). https://doi.org/10.1038/s41893-020-00606-1