Os fungos como substitutos potenciais do couro

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O material derivado da biomassa de fungos apresenta características similares às do couro de animais e daqueles produzidos de forma sintética. Sua fabricação é mais barata, benéfica para o meio ambiente e, ao fim de sua vida útil, é biodegradável.

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Mala

O material derivado da biomassa de fungos apresenta características similares às do couro de animais e daqueles produzidos de forma sintética. Sua fabricação é mais barata, benéfica para o meio ambiente e, ao fim de sua vida útil, é biodegradável. 

Nesta nota, destaco seções de um artigo publicado por Mitchell Jones, Antoni Gandia e Alexander Bismarck na revista Nature, que descreve, entre outras coisas, o uso de materiais derivados de fungos como substitutos do couro.

O couro é um material durável e flexível, de origem natural, tratado por processos físicos e químicos para aumentar sua durabilidade. Hoje, é um material bastante utilizado na indústria da confecção, calçados, móveis e acessórios, devido às suas propriedades organolépticas (cor, brilho, textura). Estima-se que, até 2025, a indústria do couro alcance US$ 360 bilhões. 

O couro está associado à pecuária, que está ligada, entre outras coisas, ao desmatamento e às emissões de gases de efeito estufa

Porém, sua produção apresenta problemas para o meio ambiente. O couro está associado à pecuária, que está ligada, entre outras coisas, ao desmatamento (para aumentar pastagens para o gado) e às emissões de gases de efeito estufa (devido ao metano liberado pelo gado como resultado da digestão). O processo de tratamento químico do couro, por si só, é prejudicial ao meio ambiente, uma vez que utiliza produtos químicos perigosos e gera considerável quantidade de lamas residuais.

Existem materiais alternativos, como os couros sintéticos à base de policloreto de vinila (PVC) e poliuretano (PU). A fabricação desses materiais contribui menos para o aquecimento global e consome menos água do que a produção de couro. No entanto, o PVC e o PU dependem de combustíveis fósseis e do uso de produtos químicos perigosos. Além disso, como outros plásticos, eles levam séculos para se degradarem.

Curtimbre

Para superar essas dificuldades, foram desenvolvidos couros artificiais derivados da biomassa de fungos. Esses materiais são semelhantes (visualmente e ao toque) ao couro e têm propriedades mecânicas semelhantes. Parecem ser uma alternativa mais econômica e também socioambientalmente mais responsável para utilização na indústria de calçados, móveis, acessórios e equipamentos esportivos. 

Os fungos são uma fonte natural e renovável de polímeros, como a quitina (que é o principal componente do exoesqueleto dos insetos). A quitina tem uma estrutura semelhante à celulose (que é o componente estrutural das células vegetais). Por causa dessa semelhança estrutural, há muito tempo é sugerido que a polpa de fungos pode ter aplicações industriais semelhantes à polpa de madeira, na indústria têxtil e na área biomédica.

Micelio

Embora o uso da biomassa de fungos remonte à década de 1950, quando começou a ser usado na indústria do papel, só nos últimos anos tem havido um grande interesse na geração de tecidos derivados de fungos, como as membranas de filtração e lâminas de polímero utilizados na indústria da moda. 

O crescimento da indústria do couro originado do micélio corresponde ao rápido crescimento do número de empresas de biotecnologia comprometidas com a produção desses materiais e produtos vindos principalmente na Indonésia, Itália e Estados Unidos. Por exemplo, a empresa indonésia MycoTech (https://www.mycote.ch) lançou vários produtos feitos de biomassa de fungos, como sapatos, sandálias, bolsas, carteiras e pulseiras de relógio. 

O crescimento da indústria do couro originado do micélio corresponde ao rá-pido crescimento do número de empresas de biotecnologia comprometidas com a produção desses materiais

O preço de fabricação do produto é baixo. Para produzir um metro quadrado (sem tratamento), são investidos US$ 0,18 - 0,28, enquanto o couro bovino sem tratamento custa US$ 5,38 - 6,24, e os materiais para produzir a mesma quantidade de couro sintético custam US$ 4,43 - 23,30.

Um dos principais desafios para a indústria de couro fúngico é obter micélios uniformes que exibam espessura, cor e propriedades consistentes em todo o material. O mercado parece promissor para o produto, que provavelmente desempenhará um papel importante na fabricação de bens de consumo com responsabilidade ética e ambiental. 

Referências

  1. Jones, M., Gandia, A., John, S. et al. Leather-like material biofabrication using fungi. Nat Sustain (2020). https://doi.org/10.1038/s41893-020-00606-1

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