O que se aprende com as informações sobre as relações “familiares” dos peixes?

link
bookmark_border Favoritos

Conhecer a maneira como os organismos se relacionam na natureza nos permite saber como eles têm se modificado através do tempo. Por sua vez, isso nos ajuda a entender a formação dos diferentes ambientes naturais.

cover


share Compartilhar expand_more

O estudo destas relações “familiares” também ajuda a compreender a diversidade biológica, permitindo conhecer o número de espécies e o tamanho de suas populações. Assim, podemos conhecer as espécies atuais e elaborar medidas para sua conservação.

O estudo analisou as relações “familiares” entre os peixes-serra (também chamados de armados ou abotoados, entre outros nomes populares), usando a informação do DNA contido em suas células (Figura 1). Esses peixes receberam esse nome devido à sua aparência, com o corpo coberto por couro, sem escamas e com uma fileira de placas laterais, quase sempre com um espinho ou serra que aponta para trás. Estão distribuídos pelos principais rios da América do Sul e se dividem em torno de 93 espécies (Figuras 1).

Platydoras editatus

Nossos resultados mostram que os peixes-serra vêm de um ancestral comum. Este resultado se reflete no seu formato, já que todos os indivíduos compartilham pelo menos três características físicas. Contudo, apesar de possuírem um ancestral em comum, diferem muito em sua coloração, tamanho (podem medir desde milímetros até um metro), tipo de alimentação e reprodução (Figura 2). Quando se estuda sua distribuição, entende-se que toda a gama de formas e comportamentos é uma variação desse peixe ancestral e ocorreu ao longo do tempo. O conhecimento sobre nossos peixes nos permite criar medidas de conservação focando nas espécies menos diversificadas e que apresentam menor quantidade de modificações quando comparadas a espécies mais antigas. Por exemplo, quando se encontram ambientes com maior quantidade de peixes diferentes entre si e com muitas modificações em comparação a peixes mais antigos, podemos inferir que estes ambientes são mais estáveis e menos vulneráveis às mudanças climáticas.

Peizes-serra

Entre os peixes-serra, se encontram alguns grupos menos diversificados, ou seja, que possuem apenas uma espécie e sua distribuição limita-se a um rio. Entretanto, de acordo com os resultados obtidos, estão diretamente aparentados com outros grupos amplamente diversificados e amplamente distribuídos. Conhecer a história desses peixes, saber como se relacionaram através do tempo e como se distribuem pelas regiões, nos permite entender como ocorreu a formação dos rios, e principalmente, entender como funcionam os ambientes naturais e como devem ser cuidados.

Os nossos resultados permitem um maior entendimento sobre a formação da cordilheira dos Andes, através das relações que foram encontradas entre as espécies de peixes. Algumas espécies estão distribuídas a oeste da cordilheira dos Andes, na bacia dos rios Magdalena e Maracaibo, e estão diretamente relacionadas com espécies que estão presentes em todas as bacias da América do Sul (Figura 3). Somando-se à existência de fósseis, pode-se assumir que o peixe ancestral que originou essas espécies já existia antes do levantamento do Andes. Esse processo criou uma barreira física que separou os indivíduos e gerou uma diversificação devido à grande variedade de ambientes que surgiram. Entre as espécies de peixe-serra, algumas habitam a bacia do rio Amazonas, do rio Orinoco e/ ou a bacia do rio Paraná. Algumas espécies do Orinoco e do sistema Paraná-Paraguai estão mais relacionadas entre si, enquanto que outras espécies do Amazonas e Orinoco são mais próximas. Isto indica que esses rios têm ou tiveram comunicações em épocas passadas, o que permitiu a passagem dos peixes de uma região à outra (Figura 4).

Mapa

Mapa

O estudo dessas relações “familiares” entre as espécies esclarece sobre como os diferentes tipos de peixes-serra surgiram e como foi sua relação com os ambientes em que habitam, permitindo criar medidas de conservação mais eficientes.



Artigo original disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S105579031300078X

Isso foi útil?


library_booksVersão PDF



event_available Lançamentos

alarm_onNotificações

close bookmark_border Favoritos