Entrevista: Julian D. Olden

link
bookmark_border Favoritos

Na primeira entrevista, conheça o que pensa o Dr. Julian Olden sobre a aproximação entre ciência e sociedade.

cover


share Compartilhar expand_more

Boat on slovenian sea (near Piran)

Revista Bioika: Qual a importância da divulgação científica para a sociedade?

Dr. Julian Olden: O objetivo de divulgar a pesquisa científica para audiências diversas tem origem no desejo de muitos cientistas de compartilhar seu conhecimento, para encorajar a descoberta e a alfabetização científica do público. De fato, Jane Lubchenco (pesquisadora e ambientalista americana) apresentou um argumento convincente de que os cientistas tem um contrato social (i.e. obrigação), de não só construir novos conhecimentos que são úteis à sociedade, mas também de compartilhar amplamente esses conhecimentos, e não só para outros cientistas. Eu não poderia concordar mais com essa afirmação!

RB: O que você tem feito em relação à divulgação científica?

JO: Durante os anos, eu tenho, ativamente, buscado oportunidades de comunicar minha pesquisa científica a audiências mais amplas. Isso não só proporciona uma chance de aumentar a consciência científica sobre um determinado tópico, mas comunicar ciência também me auxilia a melhorar minhas habilidades de escrita e didática, além de me proporcionar uma oportunidade de elevar minhas habilidades de ensino, liderança e gestão. É uma situação onde todos ganham! Minha abordagem para divulgação científica tem tido muitas facetas. Primeiramente, meu laboratório de pesquisa tem um blog mensal que transmite ciência e outras atividades que eu e meus alunos de pós-graduação temos conduzido. Segundo, eu tenho uma audiência bastante forte no Twitter, onde eu anuncio resultados específicos de pesquisas do meu laboratório. Terceiro, eu ativamente compartilho bancos de dados e apresentações de slides para fazer com que nossa ciência esteja disponível a todos. Em quarto lugar, nós frequentemente lideramos ou participamos de eventos de alcance público na comunidade. Ainda tenho muitos mais a listar, mas esses são somente uma amostra.

RB: Atualmente, você tem algum projeto relacionado à divulgação científica?

JO: A divulgação científica é parte da grande maioria dos meus projetos de pesquisa, mas um dos projetos atuais vale a pena mencionar. Durante os últimos 4 anos, eu tenho liderado um projeto de ciência cidadã, envolvendo a remoção de um lagostim invasor de um único lago perto de Seattle (Washington, EUA), com o objetivo de restaurar a teia trófica aquática. Isso envolve muitos voluntários, que são proprietários de casas ao redor do lago, e eles tem feito armadilhas em suas docas para remover lagostins. Após um pouco de treinamento, os voluntários identificam a espécie, medem e determinam o sexo dos todos os lagostins. Depois disso, eles colocam toda essa informação na internet. Esse programa tem sido muito bem sucedido para pesquisas científicas (informações sobre mais de 8.000 indivíduos de lagostim capturados e a ciência explorando o sucesso desse esforço de restauração) e para a educação do público (muitos artigos de jornais, cobertura de rádio, e um grande número de voluntários bem educados que estão espalhando seu conhecimento sobre a prevenção de espécies invasoras).

RB: Qual é o papel da Internet para a divulgação da informação?

JB: Hoje, é amplamente reconhecido que os caminhos tradicionais da comunicação em ciência, como apresentações em conferências e publicações revisadas por pares, falham em levar informação de maneira confiável ao público em geral e aos tomadores de decisão. Várias plataformas de mídia social (e.g. Twitter, Facebook, Reddit) e o uso de blogs científicos, proporcionam agora maneiras instantâneas de comunicar nossas pesquisas. Isso é um pouco assustador, se você quer saber! Agora, a resposta não é criar uma conta no Twitter e inundar a internet com tweets e retweets; ao invés disso, eu argumento que cientistas devem ser extremamente intencionais ao usar as mídias sociais, para elaborar mensagens apropriadas e alcançar os públicos pretendidos. A paisagem de mídia social é vasta e sempre em mudança, e muitas oportunidades de comunicar ciência provavelmente existem em todo canto!

RB: No artigo “Lay summaries needed to enhance science communication” (em português, Resumos para não-especialistas precisam melhorar a comunicação em ciência), você e a Lauren Kuehne falam sobre o “ecossistema de mídia”. Você pode explicar o que isso significa?

JO: Absolutamente. O fato é que muitos cientistas estão ativamente esforçando-se para tornar sua pesquisa disponível e relevante para políticas sociais, econômicas e ambientais, e para a educação. Para fazer isso, nós devemos ser proativos em procurar, e se necessário, criar, novas oportunidades para a ciência no discurso público. A transferência tradicional de conhecimento, de cima para baixo, envolve jornalistas selecionando somente uma pequena fração das novidades científicas para relatar (em mídia impressa ou vídeo), resultando em grandes quantidades da ciência restante ficando completamente desconhecida pelo público. Atualmente, a crescente confiança na internet para buscar informação científica tem transformado a natureza e o ritmo da troca de informações; por isso, hoje existe um "ecossistema de mídia", onde o leitor tem um papel muito mais ativo em procurar e usar a informação científica. Em outras palavras, existem muitos caminhos por onde o público pode aprender sobre as descobertas científicas. Por meio da publicação de resumos não-técnicos dos nossos artigos científicos, nós teremos a oportunidade de participar diretamente com os consumidores do conhecimento, e não ficar esperando ao lado do telefone que o jornalista ligue.

RB: Como você acha que podemos assegurar a qualidade da divulgação científica em publicações online?

JO: Assegurar a qualidade de publicações de acesso livre é definitivamente um desafio. O argumento é que a integridade científica dessas revistas pode ser mantida se o processo de revisão por pares continuar como o modelo central para a publicação da revista. Nesse caso, é claro, presumimos um processo de revisão por pares que seja imparcial (mas não vamos entrar nesse mérito agora!), o que tem levado muitas revistas a considerar também o uso de avaliações por pares abertas. Esse é um assunto bem extenso, portanto talvez possa ser melhor discutido ao tomarmos uma cerveja gelada ou uma caipirinha.

RB: Como podemos encorajar essa prática entre os cientistas? Você tem algum conselho para estudantes de pós-graduação iniciantes?

JO: Eu acredito que os estudantes de pós-graduação tem um papel muito importante na comunicação em ciência; eles são, talvez, mais adequados para se conectarem com o público social mais jovem, e assim inspirar a nova geração de cientistas. Mas, infelizmente, os estudantes geralmente não tem recursos nem treinamento suficientes para navegar nesse processo audacioso, e atividades de comunicação nem sempre são apoiadas por seus orientado res. Alguns estudos apontam que existem três barreiras principais para a participação dos estudantes de pós-graduação na comunicação científica e divulgação: pouco tempo, falta de informação sobre as oportunidades, e pouco apoio dos seus orientadores. Estudantes, orientadores e instituições devem trabalhar duro para superar esses desafios. Por exemplo, eu trabalho com todos os meus estudantes de pós-graduação para desenvolver um portfólio de comunicação em ciência, que detalha um plano de divulgação científica em relação a ensino, pesquisa e aulas. Nós publicamos um artigo na revista Conservation Biology (Biologia da Conservação) detalhando essa ideia e fornecendo orientação para alunos de pós-graduação artículo en la revista “Conservation Biology”

TB: Na América Latina, as habilidades científicas dos pesquisadores são frequentemente medidas pelo número e qualidade dos artigos científicos. A respeito disso, a maior parte do tempo é gasta para produzir esse tipo de publicação e por isso a comunicação científica tende a ser negligenciada. O que você pensa sobre isso?

JO: Infelizmente, a mesma situação existe nos Estados Unidos. Os cientistas são amplamente avaliados de acordo com o número e qualidade das publicações e o montante de financiamento da pesquisa que eles recebem (mais algumas considerações de habilidades de ensino). Eu acredito que as instituições têm a obrigação de fornecer as oportunidades e ferramentas para os pesquisadores se engajarem na comunicação científica, e iniciativas obrigatórias para os cientistas participarem dessas atividades acadêmicas não tradicionais. Alguns irão se envolver na comunidade científica independentemente, e alguns nunca irão se envolver – mas há aqueles no meio termo, que irão se envolver, desde que os benefícios na carreira ultrapassem os custos.

RB: Como é a relação entre as publicações científicas e o governo dos Estados Unidos? Há alguma influência considerável da ciência nas decisões políticas?

JO: Uau, essa é uma pergunta bem grande e complicada. Como cientistas, nós esperamos que nossa pesquisa informe as políticas e a tomada de decisões. A realidade é que se isso acontece, o grau com que a ciência informa a política varia consideravelmente dependendo da questão ambiental, contexto geográfico e tempo. Tudo o que podemos fazer é procurar por janelas de oportunidades quando o momento da pesquisa relevante e da reforma política se alinham e, em seguida, comunicar ativamente a nossa ciência!

RB: O que você diria para convencer as pessoas de que o conhecimento científico é importante?

JO: A ciência é realmente o ato da descoberta. Através da ciência, nós começamos a entender o papel que os humanos desempenham no ambiente – como nós o impactamos e como nós podemos garantir um planeta saudável e funcional para nós e para as gerações futuras. Todos podem ser incluídos e se envolver na ciência através de suas experiências pessoais diárias, independente de onde vivem, como vivem ou de que língua falam.

RB: Você poderia nos contar sobre sua trajetória científica pessoal e suas escolhas que o tornaram uma referência mundial na Ecologia?

JO: Falando em cervejas mais cedo, eu poderia precisar de uma para responder a essa pergunta. Eu cresci na água, bem... na verdade, em um veleiro na água. Então, eu sempre fui fascinado pela vida aquática. Então, eu culpo meus pais por tudo!.
A Revista Bioika agradece imensamente a disposição do Dr. Olden em aceitar participar conosco na seção entrevista e responder nossas perguntas de forma clara e detalhada. Com certeza o aguardamos para uma caipirinha e algumas cervejas para conversarmos mais sobre divulgação científica.

Você pode conhecer mais sobre o trabalho deste incrível pesquisador, acesse o site de seu laboratório: depts.washington.edu/oldenlab/

Isso foi útil?


library_booksVersão PDF



event_available Lançamentos

alarm_onNotificações

close bookmark_border Favoritos