
Os nomes María del Pilar Hurtado, Enrique Guejia Mezal, Dilma Ferreira Silva ou Samir Flores não significam nada para a maioria das pessoas. Não são nomes de influenciadores ou youtubers, muito menos fazem parte do show business. Eles não fazem mais parte deste mundo, são apenas 4 nomes dos 212 ativistas ambientais assassinados em 2019. Os números de assassinatos de ativistas ambientais bateram recordes nos últimos anos. Em julho de 2020, a organização Global Witness1 divulgou as estatísticas de assassinatos de líderes ambientais e defensores da terra para o ano de 2019. Os números são preocupantes, uma vez que a cada semana, quatro ativistas são assassinados em todo o mundo, desde 2015. Os assassinatos são apenas uma parte da intimidação que essas pessoas enfrentam, já que a perseguição por diferentes atores, incluindo processos judiciais pelos Estados, violência sexual, ameaças de morte, desaparecimento forçado e ataques violentos estão se tornando “parte da paisagem”, especialmente nos países em desenvolvimento.

O relatório destaca que, dos 212 assassinatos registrados em 2019, metade ocorreu em apenas dois países: Colômbia com 64 assassinatos e Filipinas com 43. Com a Colômbia à frente, seguida pelo Brasil (24 assassinatos) e México (18 assassinatos), a América Latina é a região onde a luta pelo acesso justo à terra, a defesa contra os impactos ambientais e a denúncia da ilegalidade tornam-se justificativas para a violência. Uma violência que se desencadeou principalmente contra aqueles que protestam contra projetos de mineração ou denunciam a mineração ilegal (50 assassinatos) e contra aqueles que se opõem à agricultura extensiva (com um aumento de 60% nos assassinatos em relação a 2018).

Outro fato preocupante é que as comunidades indígenas têm sofrido com esse flagelo de forma desproporcional. Embora representem apenas 5% da população global, 40% dos líderes ambientais assassinados eram indígenas. E por causa dos setores envolvidos nos assassinatos, muitos se concentraram em áreas de expansão da fronteira agrícola, como a Amazônia, onde ocorreram 90% dos assassinatos registrados para o Brasil.
O relatório chama a atenção para o impacto dos ataques de governos e políticos sobre a reputação de ambientalistas, que acabam promovendo violência. Além disso, o alto grau de corrupção dentro das instituições em vários desses países impede a justiça. Esse é o caso do Brasil, onde as investigações produziram resultados judiciais em apenas 14 dos 300 assassinatos ocorridos desde 2010 na Amazônia brasileira2.

Buscando proteger a vida dos ambientalistas, o relatório da Global Witness termina com recomendações dirigidas a governos, empresas e investidores. Os governos devem insistir na necessidade de garantir os direitos de propriedade da terra para as comunidades indígenas, bem como garantir o acesso a ela de forma igualitária, incluindo a perspectiva de gênero. Os governos devem ser responsáveis por avaliar e tornar públicos os impactos ambientais potenciais causados por projetos que necessitem explorar recursos naturais. E talvez um dos pontos mais importantes seja legitimar, promover e defender o exercício do ativismo ambiental e, claro, fazer justiça mediante os ataques, ameaças e assassinatos.
Mais informações:
- Global Witness. Defending tomorrow: The climate crisis and threats against land and environmental defenders. 2020
- Naiara Galarraga Gortázar. Brasil só julgou 14 dos 300 assassinatos de ambientalistas da última década. El País. https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/16/politica/1568661819_648829.html