A educação ambiental é fundamental para a formação de cidadãos sensibilizados e comprometidos com o cuidado do ambiente e dos recursos naturais. A Província de Misiones (Argentina) possui uma rede hidrográfica que abrange aproximadamente 80% de seu território. Por isso, a proteção dos cursos de água e das formas de vida que dependem deles só pode ser fortalecida a partir de experiências e situações reais. Este projeto educativo buscou unir o conhecimento escolar e o aprendizado significativo sobre a biologia e a ecologia dos peixes que habitam os rios e arroios da Província de Misiones a partir do conhecimento produzido em um projeto de pesquisa científica da Universidade Nacional de Misiones.
Essas oficinas são interessantes para divulgar o conhecimento produzido no âmbito dos projetos de pesquisa relativos à fauna de peixes do Rio Paraná e seus afluentes à comunidade educacional de escolas primárias e secundárias, sob a ótica da premissa "conhecer para proteger". O diálogo entre a universidade e a comunidade é importante e necessário a partir dos novos paradigmas da ciência, especialmente ao se tratar de comunidades educacionais.
O diálogo entre a universidade e a comunidade é importante e necessário a partir dos novos paradigmas da ciência
O Projeto de Biologia Pesqueira Regional da Faculdade de Ciências Exatas, Químicas e Naturais (UNaM) reúne pesquisas ictiológicas no Alto Paraná há mais de 40 anos e, desde 1995, estuda as mudanças nos peixes do rio Paraná após a formação do reservatório da represa Yacyretá (Argentina-Paraguai), tanto na sua zona de influência quanto nos afluentes que ficaram a montante (acima) da barragem.
As modificações ecológicas resultantes da alteração do rio para a formação do reservatório permitiram não somente a visualização de um conjunto de mudanças nas comunidades aquáticas (incluindo os peixes), mas também um entendimento das implicações sociais sobre os recursos pesqueiros. É comum ouvir frases como "depois da represa, não há mais peixes", "já não existem mais os dourados nem os surubins", "o rio está cheio de piranhas", entre outras.
É comum ouvir frases como: depois da represa, não há mais peixes; já não existem mais os dourados nem os surubins; o rio está cheio de piranhas
Desse projeto de pesquisa, surgiu um projeto de extensão universitária com o propósito de promover o intercâmbio entre escolas e universidade, além de fortalecer o conhecimento sobre os peixes nativos e outras comunidades aquáticas relacionadas, integrando atores sociais na análise das problemáticas ambientais.
Nossa proposta permite investigar as necessidades de professores e alunos em relação ao ensino das ciências naturais e da educação ambiental, além de oferecer recursos adequados a essas demandas.
Este projeto surgiu em 2019 com o objetivo de fortalecer a ciência escolar e refletir sobre a proteção da nossa biodiversidade de peixes. São realizadas oficinas participativas presenciais em escolas primárias e secundárias, bem como oficinas públicas em eventos de divulgação científica organizados por diversas entidades da nossa cidade, como a Expo Carreiras (uma mostra das atividades das universidades para estudantes que estão buscando opções de ensino superior), a Festa Científica (mostra pública para o público geral em comemoração à Semana da Ciência, que na Argentina ocorre em outubro) e Jornadas do Dia Mundial da Água.
Foram realizadas visitas a 33 escolas de nível primário, secundário, educação infantil e escolas de educação especial, além de seis instâncias de exposições comunitárias, atingindo cerca de 2000 pessoas de diferentes idades.
A convocação das escolas é feita de maneira tradicional, visitando pessoalmente as instituições, explicando os objetivos das oficinas e deixando um folheto descritivo com dados de contato. Uma vez confirmado o interesse da instituição, é agendado um dia e horário para a realização da oficina.
As atividades realizadas incluem diversas etapas gerais, que podem variar de acordo com o nível de ensino com o qual se trabalhará. Planeja-se uma oficina de 60 a 80 minutos, dependendo do número de alunos e de sua predisposição para o trabalho.
Achamos que as oficinas propostas podem ser consideradas parte de um processo educativo permanente, cujo objetivo geral é a formação de uma consciência ambiental.
As oficinas propostas são elaboradas a partir dos conhecimentos cotidianos dos alunos até a consolidação de um conhecimento mais complexo e integral, incorporando conteúdos conceituais, socioemocionais e atitudinais. Esta proposta inclui a promoção da Agenda 2030, em particular os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 4 (ODS 4: educação de qualidade) e 14 (ODS 14: vida na água), e está alinhada com a Lei Nacional 27.621 de Educação Ambiental Integral, pois achamos que as oficinas propostas podem ser consideradas parte de um processo educativo permanente, cujo objetivo geral é a formação de uma consciência ambiental.
As atividades realizadas nas oficinas consistem na exposição dialogada do tema, atividades lúdicas, manipulação de exemplares conservados em álcool, observação ao microscópio de ovos e larvas de peixes, além de escamas e ovócitos. Com os mais novos, são trabalhadas fichas para colorir. A oficina é concluída com uma chuva de ideias e a criação de cartazes sobre propostas para cuidar dos ecossistemas aquáticos. Ao professor coordenador da atividade, é oferecida uma série de recursos didáticos e informativos para continuar trabalhando o tema em sala de aula: cartazes com imagens de peixes adultos, nome científico e comum, folhetos sobre os peixes de Misiones, os peixes migradores e o dia da água, além de folhas para colorir.
No caso de trabalhar com alunos do ensino secundário (aproximadamente 12 a 17 anos), realiza-se uma atividade sobre os peixes envolvidos em ataques a banhistas na nossa cidade: arraias, piranhas e traíras.
Esquema geral das oficinas
1. Apresentação: Introdução dos facilitadores e contextualização da atividade.
2. Introdução: A biodiversidade dos peixes do rio Paraná e seus afluentes. Apresentação expositiva e dialogada. No nível secundário, utiliza-se apoio visual com apresentação de slides.
3. Atividade lúdica "Pescando perguntas": Realizada nos níveis inicial e médio, os alunos devem "pescar" com uma vara de pescar (que possui um ímã) peixes de madeira também com ímã. Eles carregam uma pregunta no dorso (que deverá respondida coletivamente) ou um curinga (neste caso, o "pescador" pode fazer uma pergunta de interesse).
4. Divisão em estações de aprendizado: Para otimizar o tempo em turmas numerosas, estabelecem-se estações de aprendizado. Cada aluno visita todas as estações em um tempo determinado:
- Manipulação de material ictiológico (peixes): o material é conservado em álcool e apresenta representantes de diferentes ordens e famílias. Também existem outros grupos de interesse, como camarões e caracóis. As observações dos materiais são acompanhadas pela visualização de uma apresentação da Entidade Binacional Yacyretá: “Os peixes do reservatório de Yacyretá”. São fornecidas luvas para a manipulação, embora a maioria dos alunos prefira manipular o material sem elas.
- Identificação de espécies problemáticas em épocas de calor: Através de imagens e esquemas de três espécies de piranhas, busca-se jogar com os caracteres morfológicos externos para identificá-las e discutir as causas dos acidentes que podem ocorrer com pessoas ou animais na água. Este grupo é o ponto de partida do tema, mas também se fala sobre arraias e traíras.
- Observação ao microscópio estereoscópico: São observados ovos, larvas de peixes e escamas. Todo o material é coletado pelo Projeto Regional de Biologia Pesqueira.
- Observação de microfotografias: São observados ovos e larvas, cujas fotografias são registradas pela nossa equipe de pesquisa.
- Debate: Ocorre uma discussão com o uso do quadro, com a proposição de uma chuva de ideias. A questão central dira em torno de como podemos cuidar dos ecossistemas aquáticos e, com isso, melhorar a qualidade da água e a vida dos peixes. Trabalha-se com a lista dos ODS para reforçar os compromissos, especialmente em escolas onde os alunos já realizaram o “Compromisso com o Ambiente para a Proteção do Patrimônio Natural e Cultural da Província de Misiones” (Lei Provincial VI - Nº 137). Este compromisso é realizado pelos alunos de 7º grau (todo dia cinco de junho), em comemoração ao Dia Provincial do Meio Ambiente.
Para encerrar a oficina, são entregues aos alunos fichas para colorir e uma pesquisa simples para avaliar sua percepção sobre a oficina e os temas abordados.
Destacamos o valor do uso de instrumentos ópticos e da manipulação de material concreto (espécimes conservados) como recursos para fomentar a curiosidade, o interesse e a motivação dos alunos nas primeiras etapas da escolarização.
Além disso, esse enfoque permite que os alunos se envolvam ativamente em seu próprio aprendizado, promovendo sua criatividade e pensamento crítico. Trabalhar com as experiências e conhecimentos prévios dos alunos pode contribuir para melhorar o ambiente escolar e a convivência em sala de aula, promovendo a participação e o respeito pelas diferentes perspectivas e saberes de cada estudante. Cada atividade é divulgada através da conta de Instagram do PBPR.
esse enfoque permite que os alunos se envolvam ativamente em seu próprio aprendizado, promovendo sua criatividade e pensamento crítico.
Como resultado dessa experiência, destaca-se o entusiasmo de professores e alunos e o compromisso das instituições educativas com uma mudança de hábitos em direção a uma escola sustentável e comprometida com o meio ambiente. A consideração do planejamento e execução desses workshops como uma experiência enriquecedora para o grupo de pesquisa é evidente, uma vez que está trabalhando sob um novo paradigma de ciência em diálogo constante com a comunidade. Da mesma forma, valoriza-se a oportunidade de abordar questões ambientais a partir da realidade local, centrando os conteúdos no ecossistema da província e sua relação com os córregos urbanos presentes nas escolas visitadas.