![Chico Mendes](https://revistabioika.org/assets/multimedia/docs/pt/artes/rosa.dias@revistabioika.org/thumbs/20190619075221-whatsapp-image-2019-05-07-at-224707-m.jpeg)
Defini-lo, que hoje é condecorado herói nacional, é uma tarefa bem difícil, mas vou me arriscar. Em poucas palavras, Chico Mendes foi um homem à frente do seu tempo, com inteligência única, forte liderança, altruísta e com o dom de tocar as pessoas com sua fala mansa. Hoje, 30 anos após seu assassinato, temos que voltar no tempo pra compreender o quanto seu legado mudou o mundo que temos hoje.
![Chico Mendes](https://revistabioika.org/assets/multimedia/docs/pt/artes/rosa.dias@revistabioika.org/20190619075221-whatsapp-image-2019-05-07-at-224707-3.jpeg)
Nascido no seringal Porto Rico em Xapuri no estado do Acre no dia 15 de dezembro de 1944, Chico começou a cortar seringa ainda menino, aos nove anos de idade para ajudar o pai.
Naquela época predominavam relações sociais e econômicas similares à escravidão na Amazônia. Somente aos 19 anos, foi alfabetizado por um refugiado político que vivia nas matas brasileiras. Iniciou sua vida sindical anos depois, em 1975, ajudando a criar os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Brasileia e de Xapuri. Uma das principais lutas do sindicato naquela época era impedir com que fazendeiros latifundiários levassem ao desmatamento de grandes extensões de terra, o que prejudicava a permanência dos seringueiros na floresta.
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Em 1985, Chico Mendes liderou a organização do 1º Encontro Nacional dos seringueiros realizado em Brasília que resultou na criação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e da proposta de Reserva Extrativista. A ideia de grupos sociais lutando pela proteção da natureza porque dela dependiam para viver, evocada por Chico Mendes em nome de milhares de seringueiros, castanheiros, pescadores e outros grupos extrativistas, mudou o pensamento ambiental no Brasil e no mundo. A proposta de criação de Reservas Extrativistas passou a canalizar a energia do CNS desde sua criação com o apoio das entidades ambientalistas de todo o mundo.
![Chico Mendes](https://revistabioika.org/assets/multimedia/docs/pt/artes/rosa.dias@revistabioika.org/20190619075221-whatsapp-image-2019-05-07-at-224707-4.jpeg)
Ao lutar contra o desmatamento da Amazônia, grilagem de terras e conflitos fundiários, Chico Mendes provocou a ira de grileiros de terra que se viam ameaçados pelas conquistas que os seringueiros estavam alcançando e foi assassinado, no dia 22 de dezembro de 1988. Em consequência do impacto internacional do assassinato de Chico Mendes, o governo brasileiro aprovou proposta do CNS de transformação das áreas tradicionalmente ocupadas em reservas extrativistas. O conceito de valor da floresta em pé, defendido por ele, culminou no reconhecimento, pelo Estado, do papel social desempenhado pelas populações extrativistas na conservação da natureza.
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As Reservas Extrativistas são um dos grandes legados do Chico e dos povos da floresta. As quatro primeiras só foram criadas em 1990. Atualmente, na Amazônia, as Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentável, federais e estaduais, totalizam 92 unidades, cobrem uma área de 34.925.910 hectares, representando 4,8% da Amazônia Legal, 19% das UCs e 8% das florestas da região, beneficiando 1.500.000 pessoas. Em outras regiões do Brasil existem 29 unidades abrangendo 534.285 hectares.
A vida e o legado do Chico, meu avô, são praticamente impossíveis de resumir em poucas páginas. Aqui eu escolhi contar a história do principal legado conquistado pelo movimento dos seringueiros dos anos 80. Mas são muitas as histórias de vida de um homem que realmente fez a diferença nesse mundo. Agora, após 30 anos sem ele aqui, esse legado vem sendo ameaçado por políticas que querem acabar com o meio ambiente e as áreas protegidas. Por pessoas que querem esquecer o passado e hoje passam a ludibriá-lo. O que ninguém sabe é o quanto dependemos dessa conexão com nossa casa, o planeta Terra, para sobrevivermos. A luta é pela humanidade.
No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade.
Chico Mendes